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Aplicativo de relacionamento verdade ou mentira?
20/07/2024 - 09:00
Ana Lúcia Ricarte

 Em uma sexta feira, decidi visitar um aplicativo de relacionamento, afinal eu escrevo sobre eles.

Atualmente diversos solteiros parecem estar usando um, e eu resolvi desbravar este universo, para descobrir como o amor esta acontecendo em algum canto virtual ao qual eu ainda não tive acesso. Pensei: “Por que não? Talvez seja legal essa nova forma de paquerar.”

Então lá fui eu, criei um perfil bonitinho, escolhi uma foto decente e comecei a explorar esse mundo. Ah, o romantismo moderno! Era como se de repente o “flertar” na vida real tivesse se tornado um exercício cansativo, quase obsoleto. O tal “olho no olho”? Lenda urbana, pelo visto.

Nos aplicativos, as coisas parecem mais simples. Você pode rejeitar com um deslizar de dedo, sem precisar fazer aquela cara estranha que a gente faz quando alguém puxa papo e você só quer correr. E o melhor: com tantas opções, é como entrar numa loja virtual dos encontros, onde você coloca no carrinho o que te agrada – ou pelo menos, o que parece agradável no primeiro clique.

Mas aí eu fui lendo os perfis. Foi quando percebi que a maioria das pessoas ali estavam, basicamente, procurando por si mesmas. Sério, as descrições eram tão detalhadas que os participantes pareciam estar mais interessados em encontrar um clone do que um parceiro. “Adoro trilhas, vinho tinto, pôr do sol e maratonas de séries.” Mas peraí, a ideia não é compartilhar? A impressão que tive foi que a expectativa é de que o outro sirva de plateia, um coadjuvante nas suas vidas tão meticulosamente filtradas.

Falando em filtros, quantos não encontrei por lá! Fotos com aquele glow suave de quem acabou de acordar (depois de meia hora ajeitando o ângulo). Frases de efeito, tipo “a vida é curta, sorria” – claro, entre uma pose e outra. Tudo montadinho, como uma prateleira de supermercado, cheia de rótulos atraentes, esperando o próximo comprador se interessar.

E quanto mais eu deslizava, mais percebia que esse jogo era artificial. Porque, no fundo, o que todo mundo parece estar evitando é o encontro de verdade. Sabe, aquela conversa constrangedora de início, aquele olhar desajeitado, o medo de falar a coisa errada. Não, ali é tudo rápido, prático. Se não dá certo, passa pro próximo! Afinal, para que perder tempo, não é mesmo?

E é nessa facilidade que mora o perigo. Com tantas opções, quem vai querer se esforçar? A sensação é que ninguém está realmente procurando alguém, mas sim uma versão idealizada de si mesmo – sem os defeitos, claro, que a gente prefere manter fora do perfil.

No fim das contas, o aplicativo virou um grande teatro de máscaras, onde todos estão performando para uma plateia imaginária, na esperança de que alguém caia na peça. E eu? Bem, fechei o aplicativo. Acho que ainda prefiro o flerte desajeitado do mundo real.

FONTE: Ana Lúcia Ricarte
EDIÇÃO: Ana Lúcia Ricarte
Ricarte Advocacia
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