Artigos
Monteiro Lobato e a Magia da Infância
17/06/2024 - 09:00
Ana Lúcia Ricarte

 Da minha varanda, deitada na rede, comecei a divagar acerca da minha infância, lembrando das fases divertidas e como tudo era simples e encantador. E me veio à mente a minha mania de me fantasiar como Emília do Sítio do Picapau Amarelo.

Nossa! Como eu era fã desta personagem de Monteiro Lobato, com sua irreverência, inteligência e criatividade. Esta personagem me inspirou muito a ser uma garota estudiosa, falante e esperta.

Monteiro Lobato, esse mestre da literatura infantil brasileira, criou um universo onde a fantasia se misturava com a realidade, onde as crianças aprendem sobre ciência, história e cultura de maneira lúdica e encantadora.

Foi Monteiro Lobato que despertou em mim a paixão pelo galante Príncipe Escamado, o medo gostoso da Cuca e a admiração pelo intelectual Visconde de Sabugosa, personagens que habitam a minha memória afetiva e, acredito, a de muitos brasileiros.

Entretanto, nos dias de hoje, Lobato tem sido alvo de severas críticas, acusado de racismo e de perpetuar estereótipos prejudiciais. Não se pode negar que suas obras refletem o contexto de sua época, um Brasil diferente do que conhecemos hoje, com valores e preconceitos que, felizmente, estamos superando. Mas, ao analisarmos sua obra, é crucial entender a importância de seu legado e a complexidade de seu impacto.

Monteiro Lobato foi um visionário e árduo defensor da cultura brasileira, ressaltando em suas obras a nossa identidade. É importante lembrar e ressaltar que Monteiro Lobato foi responsável por promover a alfabetização e a educação, incentivando crianças a lerem e sonharem. Ele nos trouxe a percepção de que a literatura poderia ser um instrumento de transformação, um caminho para a imaginação e o conhecimento. O sítio não era apenas um lugar fictício; era um portal para o aprendizado e a curiosidade, que despertava nas crianças a vontade de explorar o mundo, e eu fui uma delas.

É muito importante nos atentarmos para a época em que este escritor renomado e maravilhoso vivia, e como ele foi, naquele momento, importante para a nossa caminhada literária.

Acredito que, ao apresentar sua obra às novas gerações, não podemos, de forma alguma, ignorá-lo. Devem ser feitas as anotações acerca da época e de como não cabem mais algumas expressões.

A discussão sobre Monteiro Lobato e o cancelamento é emblemática de um debate maior sobre como sociedades modernas devem lidar com o legado de figuras históricas cujas obras ou ações já não se alinham com os valores atuais.

Portanto, o cancelamento de Monteiro Lobato não deve ser visto simplesmente como um apagamento de sua contribuição, mas como uma oportunidade para uma análise crítica e aprofundada de sua obra e de sua época, promovendo uma compreensão mais completa e inclusiva da história literária brasileira.

FONTE: Ana Lúcia Ricarte
EDIÇÃO: Ana Lúcia Ricarte
Ricarte Advocacia
Podemos te ajudar?